agora, se você tivesse que ensinar escrita criativa, ele perguntou, o que você lhes diria?

eu lhes diria para ter um caso de amor
fracassado, hemorróidas, dentes podres
e beber vinho barato,
para evitarem a ópera e o golfe e o xadrez,
seguirem trocando a guarda de suas
camas de parede em parede
e depois eu lhes diria para terem
outro caso de amor fracassado
e nunca usar uma fita de seda na máquina
de escrever,
evitar os piqueniques em família
ou serem fotografados em um jardim coberto de
rosas;
para lerem Hemingway apenas uma vez,
pularem Faulkner
ignorarem Gogol
olharem fixo para as fotos de Gertrude Stein
e ler Sherwood Anderson na cama
comendo biscoitos Ritz água e sal,
perceberem que as pessoas que não param
de falar sobre liberação sexual
na verdade estão mais assustadas do que vocês.
para ouvirem E. Power Biggs debulhar o
orgão no rádio enquanto estão
fumando um Bull Durham no escuro
numa cidade estranha
restando apenas um dia pago de aluguel
após terem desistido de tudo
amigos, parentes e empregos.
jamais se considerem superiores e/
ou dentro da média
nem nunca tentem sê-lo.
tenham um outro caso de amor fracassado.
observem uma mosca sobre uma cortina de verão.
jamais tentem ter sucesso.
não joguem sinuca.
deixem que uma fúria legítima tome conta de vocês
quando seus carros estiverem com pneu no chão.
tomem vitaminas mas não levantem pesos nem corram.

então depois disso tudo
revertam o processo.
tenham um bom caso de amor.
e a coisa
que talvez aprendam
é que ninguém sabe nada -
nem o Estado, nem os ratos
nem a mangueira no jardim nem a Estrela Polar.
e se por acaso vocês me pegarem
ensinando numa classe de escrita criativa
e me lerem este poema
eu lhe darei um A com louvor
bem no olho
do cu.